quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Crítica: DESAPARECIDAS

Na sexta-feira assisti ao Curioso Caso de Benjamin Button e me animei para fazer uma maratona Cate Blanchett de filmes a que ainda não assisti. Nessa onda, loquei Desaparecidas (The Missing, 2003), com Tommy Lee Jones e Aaron Eckhart.

No final do século XIX, no Novo México, Maggie Gilkeson (Cate Blanchett) é mãe de duas filhas e cuida de um rancho com a ajuda de Brake (Aaron Eckhart). Maggie, católica fervorosa, exerce a profissão de médica-curandeira e acaba por receber seu pai, que a abandonara quando criança para viver em meio aos índios. A ação começa quando a filha mais velha da protagonista é sequestrada por índios contrabandistas de mulheres. Num misto de aventura, suspense e drama familiar, pai e filha embarcarão em uma jornada para recuperar a jovem.

Tenho que dizer que uma das épocas que mais me atrai é o século XIX no Velho Oeste Americano. Gostaria de viver alguns dias por lá naqueles tempos em que os desbravadores expandiam as fronteiras, contando apenas com seu rifle e sua bíblia. No entanto, não sou entusiasta do Destino Manifesto, da hegemonia estadunidense e afins, gostaria apenas de estar ali, morando naquelas casas de madeira isoladas, sem luz elétrica, sempre esperando ataques indígenas ou coisa que o valha.

Dessa forma, a um primeiro momento, o filme me chamou atenção por sua fotografia e caracterização. O por-do-sol vermelho nas terras secas e pedregosas, a neve no curral, aquelas roupas inconfundíveis, os rifles antigos. Um verdadeiro encontro com o período histórico.

Outro ponto forte, mas que pode se revelar a fraqueza do roteiro, é a mistura de gêneros. As perseguições aos sequestradores pendem para a aventura, as cenas de bruxaria indígena tentam enveredar para o terror e a relação entre Maggie e seu pai se mostra como um drama familiar. Assim, o filme pode agradar várias audiências, mas nenhuma delas o elegerá um clássico. O suspense acaba não assustando, a ação perde o ritmo em vários momentos e o drama não é explorado com profundidade, salvo apenas pelo talento de Blanchett e de Tommy Lee.

Outro problema é que o filme parece estar um tanto quanto deslocado no tempo. Ok, todo mundo sabe que o mundo não é maniqueísta, que os americanos cometeram um genocídio indígena e que os índios revidaram e também mataram muita gente. Mas, mesmo colocando brancos na área dos vilões, parece anacrônico pintar alguns indígenas como monstros sem alma. Assista ao filme e você, leitor afoito, irá entender o que estou falando.

Mas a película tem pontos fortes também. O sequestro de mulheres e tráfico internacional é uma realidade que ainda assombra muitos países, inclusive o Brasil. Só em 2005, a Polícia Federal brasileira abriu 119 inquéritos para investigar o tráfico de mulheres somente para Portugal e Espanha. Estima-se que as redes de prostituição possam lucrar até US$30.000,00 com cada mulher traficada. O argumento do filme, portanto, revela-se muito atual e pertinente.

As atuações também se destacam. Tommy Lee está sempre bem e se encaixa perfeitamente em seu papel. As duas atrizes que interpretam as filhas de Maggie também estão muito bem, com destaque para a pequena Jenna Boyd. Para Cate Blanchett, só tenho elogios. Não me canso de falar como impressiona o poder de sua expresão, das marcas de seu rosto, de seus olhos azuis e profundos.

Um pouco longo demais para suas pretensões, Desaparecidas peca em questão de roteiro, mas agrada quem busca um filme de época ou diversão banal. Sem trazer grandes reflexões, a película se mostra uma boa opção para sábado à noite. Quem sabe assim dá para aproveitar o pretensioso clima sombrio do filme.

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