terça-feira, 27 de janeiro de 2009

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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Crítica: SOBRE MENINOS E LOBOS (2003)

Sean Penn, em uma forte cena do filme

Contando com clima extremamente realista e uma direção brilhante de Clint Eastwood, Sobre Meninos e Lobos nos mostra mais que uma história de suspense policial ou drama. O título em português já revela o grande potencial do filme, pois nos remete a um ensaio sobre a violência, a sociedade e a individualidade de cada homem. Lobo, menino ou ambos.

Jimmy Marcus (Sean Penn) perde a filha em um assassinato e se empenha em fazer justiça com as próprias mãos. Sean Devine (Kevin Bacon) é um dos policiais que investiga o caso e Dave Boyle (Tim Robins) é o principal suspeito do crime. O elemento crucial na história é que os três homens eram amigos numa infância marcada pelo abuso sexual que o personagem de Tim Robins sofrera.

Não é difícil notar o realismo e a verossimilhança do filme. A fotografia é contida, o bairro suburbano não é idealizado nem repleto de tipos, a iluminação é a mais natural possível. Quando assistimos a Sobre Meninos e Lobos, temos a impressão de que estamos olhando pela janela de nossa casa e vendo nosso bairro. Não há um clima sombrio como em Gotham City, alegre como em Mamma Mia!, ou mesmo idealista como em Benjamin Button. Tudo no filme, desde as atuações até a caracterização do espaço, nos remete a um visual cru e adulto, criando uma inquietante proximidade entre realidade e ficção.

Não é fácil pensar em um tema principal que seja abordado na película. Sob um prisma sociológico, surge a questão da violência. O abuso sexual do menino Dave Boyle é o primeiro a saltar aos olhos. Magistralmente interpretado por Tim Robins, o personagem carrega as marcas dessa violência até a vida adulta. Boyle não consegue se manter empregado, tem surtos de paranoia ou violência e se mostra um eterno menino que ainda cairá nas mãos dos lobos. Tim Robins consegue esmiuçar cada detalhe desta personalidade perturbada e complexa, desde olhares até pequenos gestos, o que lhe rendeu o Oscar de melhor ator coadjuvante em 2004. Outro ponto a ser considerado é a espiral de violência que não se esvai de forma alguma. A geração de adultos fora e continua sendo violenta e os adolescentes do presente seguem pelo mesmo caminho. De certa forma, a sombra do medo paira sobre a vizinhança do filme, garantindo que a violência se perpetue.

Sob um prisma psicológico, podemos notar as relações entre meninos e lobos, tão acertada no título em português. A primeira vista, pode parecer que os os meninos e os lobos da história já estão determinados. Porém, o grande trunfo do filme é não cair no maniqueísmo. Jimmy Marcus, mesmo adulto e pai de família, anda por aí com sua ganguezinha espalhando autoritarismo pelo bairro como um adolescente. Dave Boyle é o eterno menino preso à chaga da infância, mas que corre de si mesmo, seu maior lobo. Ainda sim ele encontra tempo para ser o predador da própria esposa.

E aqui temos outro tema interessante, as esposas. Sobre Meninos e Lobos é, de certa forma, um filme sobre homens que acaba refletindo sobre mulheres. Ora são sensíveis e espertas, ora são ingênuas. Às vezes conseguem entrar nas mentes de seus maridos, às vezes são tolas e inocentes. Mas no fim, descobrimos que cada casal se completa perfeitamente em suas fraquezas e em suas forças; não havia apenas homens, mas casais que se espelhavam a si mesmos. Os meninos eram casados com as meninas.

Sean Penn, que também levou um Oscar de melhor ator em 2004, dá um show à parte. Seu personagem, bem a meu gosto, é esférico. Ele possui múltiplas facetas a serem explorados e Sean Penn viaja por todas. O jeito de bad boy crescido e autoritário é o pano de fundo do personagem, que passa por momentos de sofrimento, de raiva e de pena. Uma cena em que se pode notar o talento com que o ator compôs o personagem é quando Jimmy chora a morte da filha junto a Dave Boyle, que pensamos ser o assassino. Acredite, é de arrepiar.

Sobre Meninos e Lobos não é um filme para qualquer um. Não há finais felizes, a ficção é nua, crua e assustadoramente parecida com nossa realidade. Prova da competência e da sensibilidade do diretor Clint Eastwood, este filme merece ser visto por todos sob a ótica da vida em sociedade. Um verdadeiro ensaio sobre nós mesmos.


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SAG 2009


O prêmio SAG (Screen Actors Guild) é oferecido a atores e atrizes por seus próprios colegas de sindicato. Esse prêmio costuma ter bastante relevância na corrida para o Oscar, pois muitos de seus votantes também votam na Academia.

Os vencedores do SAG 2009 em cinema foram (em vermelho):

MELHOR ELENCO:
Dúvida
Frost/Nixon
Milk - A Voz da Igualdade
Slumdog Millionaire
O Curioso Caso de Benjamin Button

MELHOR ATRIZ:
Anne Hathaway - O Casamento de Rachel
Angelina Jolie - A Troca
Melissa Leo - Rio Congelado
Meryl Streep - Dúvida
Kate Winslet - Foi Apenas um Sonho

MELHOR ATOR:
Richard Jenkins - The Visitor
Frank Langella - Frost/Nixon
Sean Penn - Milk-A Voz da Igualdade
Brad Pitt - O Curioso Caso de Benjamin Button
Mickey Rourke - The Wrestler

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE:
Amy Adams - Dúvida
Penélope Cruz - Vicky Cristina Barcelona
Viola Davis - Dúvida
Taraji P. Henson - O Curioso Caso de Benjamin Button
Kate Winslet - O Leitor

MELHOR ATOR COADJUVANTE:
Josh Brolin - Milk-A Voz da Igualdade
Robert Downey Jr. - Trovão Tropical
Philip Seymour Hoffman - Dúvida
Heath Ledger - Batman-O Cavaleiro das Trevas
Dev Patel - Slumdog Millionaire


O primeiro prêmio na categoria de cinema foi de Melhor Atriz Coadjuvante. Nesse ano, todas mereciam, as cinco fizeram um execelente trabalho, mas as favoritas eram Penelope Cruz e Kate Winslet. E real e justíssimamente, quem levou foi Kate Winslet, a dona do ano (quem se lembra dos dois Globo de Ouro na mesma noite?). Nessa hora, me veio a pulguinha: será que Dúvida vai ganhar Melhor Elenco? Apesar de ter sido indicado em quase todas as categorias de atuação, Amy Adams e Viola Davis não mais levariam o prêmio.

Cabe lembrar também que Kate Winslet concorre ao Oscar pelo mesmo papel que levou o SAG, mas na categoria de Melhor Atriz. É a favorita do dia 22 de fevereiro.

O próximo prêmio de cinema foi de Melhor Ator Coadjuvante, que não tem nem mais graça. Quem levou todas e continuará levando até o Oscar é Heath Ledger, por seu estupendo trabalho como o Coringa. E nessa, Philip Seymor Hoffman também não levou, o que aumentou minha pulguinha em relação ao prêmio para Dúvida.

Já no fim da cerimônia, foi anunciado o prêmio de Melhor Atriz. Para mim, a disputa estava entre Meryl Streep e Kate Winslet. Eu até acreditava que o SAG poderia fazer dobradinha com o Globo de Ouro e a Kate sair com dois prêmios na mesma noite, mas torcia pela Meryl. Tive uma boa surpresa. Meryl Streep levou o prêmio por seu ótimo trabalho em Dúvida e pelo prestígio que carrega junto a seus colegas.

Quanto ao prêmio de Melhor Ator, eu sabia que Brad Pitt não levaria, pelos motivos que já expus várias vezes nesse blog. Ele está bem, mas nada fora de série. Mickey Rourke era mais ou menos o favorito por sua premiação no Globo de Ouro, mas eu apostava em Sean Penn. Não assisti a Milk, mas nas cenas que vi o ator está irretocável, maravilhoso. Ver Penn, que sempre teve o jeitão de bad-boy, interpretar um homossexual na medida certa é ótimo. E quem levou foi Sean Penn mesmo, o que o torna favorito ao Oscar.

Por que estou questionando tanto o fato de Dúvida levar ou não melhor elenco? Por que quatro de seus atores foram indicados em três categorias, o que o torna, teoricamente, o favorito ao prêmio da noite. Porém, apenas Meryl Streep levou a estatueta. Com o prêmio de Sean Penn, confesso que fiquei em dúvida entre Milk e Dúvida. Passei longe. O filme que levou o prêmio de Melhor Elenco foi Quem quer ser um milionário?. Sobre esse, não posso comentar por que não vi o filme. Será que foi merecido?

O homenageado da noite foi o ator James Earl Jones, também famoso por sua voz que emprestou ao lendário Darth Vader e ao Rei Mufasa em Rei Leão.

Só para constar, os premiados na categoria de televisão foram Tina Fey e Alec Baldwin por seus papéis em comédia. O Melhor elenco de comédia quem levou foi 30 Rock. Nas séries dramáticas, os premiados foram Hugh Laurie e Sally Field e o elenco de Mad Men. Quem levou em telefilme ou minissérie foram Laura Linney e Paul Giamatti.

Bons filmes!

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sábado, 24 de janeiro de 2009

Crítica de estreia: AUSTRÁLIA

Baz Luhrmann dirigiu apenas Vem dançar comigo (1992), Romeu e Julieta (1996), Moulin Rouge (2001) e Austrália (2008). Apesar da curta carreira, o diretor alcançou notoriedade com o controverso musical de 2001. Com Austrália a fórmula se repete: o filme certamente dividirá opiniões.

Nicole Kidman interpreta Sarah Ashley, uma aristocrata inglesa que vai a Austrália atrás de seu marido para finalizar a venda de uma grande propriedade no país em 1939, pouco antes do começo da Segunda Guerra Mundial. O que ela não espera é encontrar o marido morto e ter que assumir o controle da propriedade e de seu imenso rebanho bovino. Com a ajuda do Capataz (Hugh Jackman), Ashley enfrentará toda sorte de emoções nesta terra mágica e desconhecida. As referências ao Mágico de Oz não são mera coincidência ou gosto do diretor.

O iníco do filme causa certo estranhamento. Desde a entrada de Nicole em cena até a chegada à fazenda, há um tom debochado no filme. Muitas piadinhas sem graça num curto espaço de tempo e uma filmagem que incomoda a audiência. As interpretações também reforçam essa má impressão. Nesse ponto, pensei que o filme seria todo dessa forma caricatural, o que não me agradaria. No entanto, esse deslize logo seria superado por uma abordagem mais séria.

E seriedade o filme possui de monte. Desde o começo é possível notar que Luhrmann deseja transformar Austrália em épico. A exaltação de uma pátria, a apresentação dos heróis com respaldo moral e a proposição de um conflito cumprem sua parte na narrativa. No plano técnico, a filmagem de amplas paisagens consegue o tom épico, apesar de o diretor exagerar um pouco em sua velocidade. Dessa forma, começamos a enxergar o filme como uma produção grandiosa, tanto a partir do roteiro quanto do apuramento técnico.

Quem se lembra de Moulin Rouge, pode ter uma ideia de que Luhrmann dá valor à estética de seus filmes. Em Austrália, porém, a fotografia não é exagerada como no musical, mas contida como em Benjamin Button. As paisagens retocadas, o por-do-sol criando os efeitos visuais por trás dos atores e os imensos desertos já apontam as qualidades visuais da película. Há duas cenas que merecem destaque. A grande boiada correndo em direção ao abismo é um dos momentos mais belos e intensos do cinema recente. Acredite, não é preciso gostar de bois para apreciar a beleza que emana da tela. E o ataque japonês ao norte da Austrália também salta da tela, não dura muito, mas as cenas de explosões em volta do Rei George (David Gulpilil) estão impregnadas de beleza e simbolismo.

Apesar da inconstestável grandiosidade do fime, há vários aspectos que o comprometem, a começar pelas atuações. Os dois únicos momentos que Nicole Kidman consegue se sobressair são sua primeira tentativa de tocar a boiada e a história de Oz que conta ao pequeno Nullah (Brandon Walters). De resto, Kidman cai na normalidade. Hugh Jackman também não decepciona, mas penso que ele está longe de merecer a badalação que o envolve hoje em dia. O restante do elenco também se adequa ao figurino.

Outro ponto controverso é a própria história da película, que pode não agradar muita gente. Aqueles que não apreciarem a temática terão que aguentar quase três horas enfadonhas, assistindo somente à sucessão de imagens bem trabalhadas. Isso não sustenta o gosto da audiência. Além do mais, a grandiosidade que o filme precisa para ser visto como épico sufoca as possibilidades de a dramaticidade aflorar. Os personagens acabam sendo menos aprofundados e o drama fica em segundo plano, deixando aquela sensação de "Ok, é muito bonito, mas eu chorei mais no Marley&Eu".

Então, se o narrador do filme nos diz que o importante de se contar uma história é sua razão de ser, cabe perguntar qual a razão de se contar a história de Austrália. Por que Baz Luhrman gastou 165 minutos e 120 milhões de dólares para contar essa história? Ora, porque o diretor australiano usou seus atores australianos para fazer um elogio à sua própria terra, tornando a Austrália o palco de poema épico moderno. Rei George é símbolo das raízes aborígenas do país, Ashley é a aristocracia colonizadora e o Capataz é a parcela da população que fica às margens das regalias da elite política. De qualquer modo, nós brasileiros podemos aprender algumas coisas com o filme.

Justamente por isso Austrália dividirá opiniões. Épicos agradam a alguns e desagradam a outros. Até hoje, ler a Ilíada e Odisséia continua um grande desafio para muita gente.


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Indicados ao SAG 2009

Amanhã é dia de SAG (Screen Actors Guild) Awards, o prêmio do sindicato dos atores. Há também as premiações dos sindicatos de diretores, roteiristas e produtores. Certamente, essas premiações não são tão conhecidas como o Globo de Ouro, mas tem mais importância na corrida para o Oscar. Isso porque as pessoas que votam na Academia são as mesmas que estão dentro de cada sindicato que premia seus colegas de trabalho.

Amanhã à noite, acontece a premiação que, na TV fechada, pode ser acompanhada pela TNT.

Segue a lista dos indicados em cinema:

MELHOR ELENCO:
Dúvida
Frost/Nixon
Milk - A Voz da Igualdade
Slumdog Millionaire
O Curioso Caso de Benjamin Button

MELHOR ATRIZ:
Anne Hathaway - O Casamento de Rachel
Angelina Jolie - A Troca
Melissa Leo - Rio Congelado
Meryl Streep - Dúvida
Kate Winslet - Foi Apenas um Sonho

MELHOR ATOR:
Richard Jenkins - The Visitor
Frank Langella - Frost/Nixon
Sean Penn - Milk-A Voz da Igualdade
Brad Pitt - O Curioso Caso de Benjamin Button
Mickey Rourke - The Wrestler

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE:
Amy Adams - Dúvida
Penélope Cruz - Vicky Cristina Barcelona
Viola Davis - Dúvida
Taraji P. Henson - O Curioso Caso de Benjamin Button
Kate Winslet - O Leitor

MELHOR ATOR COADJUVANTE:
Josh Brolin - Milk-A Voz da Igualdade
Robert Downey Jr. - Trovão Tropical
Philip Seymour Hoffman - Dúvida
Heath Ledger - Batman-O Cavaleiro das Trevas
Dev Patel - Slumdog Millionaire

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sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Impressões: UM FAZ DE CONTA QUE ACONTECE

Essa coluna se chama Impressões porque não chega a ser uma crítica. Estou bem ocupado nesses dias, assistindo a muitos filmes mais densos que essa história infantil que entrou em cartaz nesta sexta-feira dia 23 de janeiro. Assim, ficam apenas as minhas impressões, algo bem rápido e informal.

Ok, o nome já assusta. Sabemos que muitas traduções de títulos não são traduções, mas a invenção de um novo nome para o filme em português. Às vezes fica melhor, às vezes fica pior. Nesse, caso ficou MUITO pior. Se dependesse do nome, ninguém iria ao cinema, acredite. O Original em inglês cai melhor: Bedtime Stories.

Mas o filme em si serve de passatempo se você desejar acompanhar uma criança ou estiver sem nada para fazer. Não será uma grande diversão, há algumas passagens constrangedoras, mas não é de todo mau. O roteiro tem uma premissa legal, cria algumas piadas inovadoras que garantem algumas (poucas) risadas, mas repete muito a dose de filmes anteriores.

Se for ao cinema só por causa de Adam Sandler, não espere muito. Não sou grande fã de seu tipo de comediante e nesse filme ele não inova seu repertório. As expressões e gestos são conhecidos. Os dois atores mirins até que dão contam do recado, talvez mais por serem uma graça do que por interpretarem alguma coisa. E as mulheres do elenco só estão lá para cumprir o formulário.

E a moral da história? A mesma que já conhecemos. Valorize sua vida, tenha iniciativa, nunca deixe de acreditar (a melhor música do filme repete isso várias vezes). No entanto, há um ponto que me divertiu muito: a sátira às manias politicamente corretas que reinam absolutas hoje em dia. As dietas malucas da mãe das crianças e a referência ao Biodiesel são ótimas!

Entretenimento descompromissado. E olha lá!

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24 Horas - Sétima Temporada

A série 24 Horas foi ao ar pela primeira vez nos Estados Unidos em novembro de 2001, pouco depois dos atentados de 11 de setembro. Retrógrada em alguns aspectos e inovadora em outros, a série conseguiu seu lugar na Panteão dos grandes shows da Fox. Sua grande inovação foi investir na ação em tempo real. Cada temporada se passa em apenas um dia, logo possui 24 episódios de uma hora cada. Se uma ação demorou 5 minutos para ocorrer no relógio de quem está vendo a série, também levou 5 minutos para acontecer por lá.

A Primeira Temporada investe na possibilidade de um atentado ao primeiro candidato negro com possibilidades de vencer as eleições para presidente dos Estados Unidos. De certa forma, 24 Horas foi profeta nesse aspecto, já que houve dois presidentes negros na série antes de Barack Obama chegar à presidência.

O personagem principal da série, Jack Bauer, é um dos mais famosos e controvertidos da atualidade. Ao longo das temporadas, vemos que Bauer utiliza métodos que não respeitam de forma alguma os Direitos Humanos, como a tortura e o desrespeito à lei. Porém, com suas ações, o agente da UCT (Unidade Contra-Terrorismo) consegue salvar milhares de vidas, prender terroristas, evitar explosões de bombas atômicas em solo norte-americano e etc. Está lançada a polêmica: as ações de Jack são justificáveis nesses casos? De certa forma, as seis primeiras temporadas de 24 Horas corresponderam aos oito anos de Doutrina Bush, em que terroristas eram tratados às margens das leis e a tortura era legítima. Agora, somos confrontados com os fantasmas do passado.

A sétima temporada começa exatamente desta forma (lembrando que ela foi precedida por um filme lançado diretamente na TV e em DVD, 24 Horas:Redenção). Mais uma vez na rota da inovação, quem ocupa a presidência dos Estados Unidos é uma mulher. A CTU foi desmantelada, e os crimes que ocorreram na época da agência estão sendo investigados; Jack Bauer é réu em uma ação no Senado norte-americano. Nesse sentido, a série está em paralelo com o momento histórico em que vivemos, já que Barack Obama parece disposto a revogar as práticas do governo Bush e a ampliar a transparência do governo.

A ação, entretanto, começa quando uma nova ameaça terrorista surge em solo americano e o FBI pede a ajuda de Jack Bauer no caso. Mais uma vez seremos jogados no turbilhão de acontecimentos, escritórios, terrorismo, reuniões presidenciais e conspirações do mundo de 24 Horas. É certo que vários elementos presentes nesse ano já foram explorados no passado, mas há algumas inovações salutares à série.

Até o momento só assisti aos dois primeiros episódeos da sétima temporada, que está sendo exibida nos EUA, então conforme for assistindo, colocarei minhas impressões neste Blog. Inicialmente, vemos como vilão o outrora grande amigo e companheiro de trabalho de Jack Bauer, Tony Almeida. Essa abordagem ficou ótima, pois coloca Jack em confronto consigo mesmo. Mas só no futuro saberemos o que a série nos esconde, o roteiro sempre tem reviravoltas.

Como está sob ordens do FBI, Jack está "trabalhando" com uma parceira, uma agente do FBI muito bem interpretada por Annie Wersching. Por enquanto, ela está sendo um contraponto de Jack, uma garantia de que ele não use seus métodos conhecidos do grande público. Mas isso não a faz uma agente inconsistente, pelo contrário, ela é, como se diz, "porreta"! Tomara que a parceria continue ao longo da temporada, está muito bom ver Mulder e Scully do século XXI.

Outra linha que pode ser bem explorada nesta temporada é a da presidência. O marido da presidente pode gerar uma linha muito boa, o que acredito que já está acontecendo. As relações entre a presidente dos Estados Unidos e o "primeiro-homem" podem gerar bons conflitos dramáticos, o que sempre foi um diferencial de 24 Horas ao misturar ação intensa e drama.

Por enquanto é só, mas esperem por mais. A sétima temporada só acaba nos Estados Unidos dia 25 de Maio. Há muito tiro pela frente.

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quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Indicados ao Oscar 2009

Hoje, um mês antes da premiação mais famosa do mundo cinematográfico, o Oscar, saíram os indicados à estatueta mais cobiçada do planeta. Um dia ainda vou escrever um artigo sobre o Oscar, pois acho que a discussão sobre a Academia anda meio pobre e conspiratória demais.

O grande nome deste ano é O Curioso Caso de Benjamin Button, que arrebatou 13 indicações, uma a menos que o recordista Titanic. Seguindo de perto, temos Quem Quer Ser um Milionário? com dez indicações que, no Globo de Ouro, roubou a cena e conseguiu os melhores prêmios.

Indicados por melhor animação, temos Bolt, Kung Fu Panda e Wall-E. Nesse quesito, quase dispenso comentários. A Pixar vem desenvolvendo um trabalho extraordinário. No ano passado, levou a estatueta dourada por Ratatouille e nesse ano provavelmente repetirá a dose com Wall-E. Sensível e tecnicamente perfeito, o 2001 das animações merece esse prêmio.

Indicados por melhor direção de arte, vemos A Troca, O Curioso Caso de Benjamin Button, Batman, A Duquesa e Foi Apenas um Sonho. Em minha crítica sobre Benjamin Button é possível observar os motivos que justificariam a vitória desse filme. Esteticamente bem cuidado e plasticamente trabalhado para encher os olhos, Benjamin Button também se vale de efeitos especiais para conseguir suas proezas, o que se torna uma faca de dois gumes. Batman também concorre a sério na categoria, o filme tem suas qualidades artísticas, mas pode ser prejudicado pelo estigma de blockbuster. Sobre os outros filmes não posso comentar pois ainda não os vi.

Benjamin Button também concorre com Batman e Hellboy II por melhor maquiagem. A princípio Benjamin parece merecer o prêmio, o trabalho de envelhecimento dos atores principais é estupendo. Porém, Hellboy não fica para trás. As criaturas fantásticas do filme enchem as telas e surpreendem pra valer. Quem não se lembra da cena do mercado de Trolls?

Para melhor ator coadjuvante, concorrem Robert Downey Jr. (Trovão Tropical), Philip Seymor Hoffman (Dúvida), Heath Ledger (Batman), Josh Broslin (Milk) e Michael Shannon (Foi Apenas um Sonho). Downey Jr. é um bom ator, mas nesse ano não parece haver páreo para Heath Ledger e seu Coringa. Depois da morte do ator, todos os seus prêmios carregarão estigmas, mas ele realmente os merece por seu trabalho. Estava possuido pelo personagem a ponto de a pessoa se anular pela arte, uma raridade hoje em dia. Nem Philip Seymor Hoffman, sempre ótimo, vai levar nesse ano.

Para melhor atriz coadjuvante, teremos uma disputa acirrada. As indicadas são Amy Adams (Dúvida), Penelope Cruz (Vicky Cristina Barcelona), Viola Davis (Dúvida), Taraji P. Henson (Benjamin Button) e Marisa Tomei (The Wrestler). Amy Adams vem fazendo um bom trabalho, mas provavelmente não será consagrada nesse ano. Penelope Cruz está cada vez melhor, está ótima no filme de Woody Allen. Viola Davis carrega uma intensa carga dramática da personagem e a cena em que divide com Meryl Streep dá provas do que vem por aí. Taraji P. Henson está formidável como a mãe adotiva de Benjamin Button, mas sua personagem acaba sendo linear demais.

Na categoria melhor ator, vemos Richard Jenkis (The Vistor), Frank Langella (Frost/Nixon), Sean Penn (Milk), Brad Pitt (Benjamin Button) e Mickey Rourke (The Wrestler). Sean Penn está ótimo. Brad Pitt vem superando estigmas, está bem em seu papel, mas não deve levar, pois não conseguiu dotar o personagem da carga dramática que podia criar. Mickey Rourke voltou com força.

Para melhor atriz, outra disputa acirrada. Serei o mais imparcial possível, mas quem me conhece sabe que considero Meryl Streep a melhor atriz de sua geração até os dias atuais, em caminho para se tornar a maior da história do cinema. Nessa categoria, as indicadas são Anne Hathaway (O Casamento de Rachel), Angelina Jolie (A Troca), Melissa Leo (Frozen River), Meryl Streep (Dúvida) e Kate Winslet (O Leitor). É consenso por aí que Anne Hathaway está ótima em seu papel, mas apenas vendo o trailer do filme que participa, não me parece suficiente para levar a estatueta. Posso estar enganado. O papel de Angelina Jolie foi desenhado para o Oscar, cheio de sentimentos intensos. Meryl Streep é minha aposta, depois do recorde de 15 indicações (!), está na hora de levar o terceiro Oscar para casa. Kate Winslet mostrou sua força no Globo de Ouro e sua premiação seria justíssima.

Para melhor filme, temos O Curioso Caso de Benjamin Button, Frost/Nixon, Milk, O Leitor e Quem Quer Ser um Milionário?. É, até agora só vi Benjamin Button. Tecnica e esteticamente, o filme mereceria o Oscar. Porém, como expus em minha análise sobre o filme, não penso que ele levará a estatueta porque seu roteiro ficou mecânico demais , falhando como um bom drama.

A cerimônia de premiação ocorre dia 22 de fevereiro de 2009 e será transmitida pela TV paga na TNT. Nesse ano, provavelmente a Globo não transmitirá o Oscar ao vivo, pois na noite do dia 22 ocorre também o Carnaval.

Segue a lista completa dos indicados:

Melhor filme
O Curioso Caso de Benjamin Button
Frost/Nixon
Milk
O Leitor
Quem Quer Ser um Milionário?

Melhor atriz

Anne Hathaway (O Casamento de Rachel)
Angelina Jolie (A Troca)
Melissa Leo (Frozen River)
Meryl Streep (Dúvida)
Kate Winslet (O Leitor)

Melhor ator

Richard Jenkis (The Vistor)
Frank Langella (Frost/Nixon)
Sean Penn (Milk)
Brad Pitt (O Curioso Caso de Benjamin Button)
Mickey Rourke (The Wrestler)

Melhor atriz coadjuvante

Amy Adams (Dúvida)
Penelope Cruz (Vicky Cristina Barcelona)
Viola Davis (Dúvida)
Taraji P. Henson (O Curioso Caso de Benjamin Button)
Marisa Tomei (The Wrestler)

Melhor ator coadjuvante

Robert Downey Jr. (Trovão Tropical)
Philip Seymour Hoffman (Dúvida)
Heath Ledger (Batman - O Cavaleiro das Trevas)
Josh Brolin (Milk)
Michael Shannon (Foi Apenas um Sonho)

Melhor diretor

Danny Boyle (Quem Quer Ser um Milionário?)
Stephen Daldry (O Leitor)
David Fincher (O Curioso Caso de Benjamin Button)
Ron Howard (Frost/Nixon)
Gus Van Sant (Milk)

Melhor roteiro original

Frozen River
Simplesmente Feliz
Na Mira do Chefe
Milk
Wall-E

Melhor roteiro adaptado

O Curioso Caso de Benjamin Button
Dúvida
Frost/Nixon
O Leitor
Quem Quer Ser um Milionário?

Melhor trilha sonora original

Alexandre Desplat (O Curioso Caso de Benjamin Button)
James Newton Howard (Defiance)
A. R. Rahman (Quem Quer Ser um Milionário?)
Danny Elfman (Milk)
Thomas Newman (Wall-E)

Melhor canção original

Down to Earth (Wall-E)
Jai Ho (Quem Quer Ser um Milionário?)
O Saya (Quem Quer Ser um Milionário?)

Melhor filme estrangeiro

Der Baader Meinhof Komplex, de Uli Edel (Alemanha)
Waltz With Bashir, de Ari Folman (Israel)
The Class, Laurent Cantet (França)
Departures, Yojiro Takita (Japão)
Revanche, de Gotz Spielmann (Áustria)

Melhor animação

Bolt - Supercão
Kung Fu Panda
Wall-E


Melhor documentário

The Betrayal (Nerakhoon), de Ellen Kuras e Thavisouk Phrasavath
Encounters at the End of the World, de Werner Herzog e Henry Kaiser
The Garden, de Scott Hamilton Kennedy
Man on Wire, de James Marsh e Simon Chinn
Trouble the Water de Tia Lessin e Carl Deal

Melhor curta de animação

La Maison en Petits Cubes, de Kunio Kato
Lavatory - Lovestory, de Konstantin Bronzit
Oktapodi, de Emud Mokhberi e Thierry Marchand
Presto, de Doug Sweetland
This Way Up, de Alan Smith e Adam Foulkes

Melhor documentário em curta-metragem
The Conscience of Nhem En
The Final Inch
Smile Pinki
The Witness - From the Balcony of Room 306

Melhor curta-metragem

Auf der Strecke (On the Line)
Manon on the Asphalt
New Boy
The Pig
Spielzeugland (Toyland)

Melhor direção de arte

A Troca
O Curioso Caso de Benjamin Button
Batman - O Cavaleiro das Trevas
A Duquesa
Foi Apenas um Sonho

Melhor fotografia

A Troca (Tom Stern)
O Curioso Caso de Benjamin Button (Claudio Miranda)
Batman - O Cavaleiro das Trevas (Wally Pfister)
O Leitor (Chris Menges and Roger Deakins)
Quem Quer Ser um Milionário? (Anthony Dod Mantle)

Melhor edição

O Curioso Caso de Benjamin Button (Kirk Baxter e Angus Wall)
Batman - O Cavaleiro das Trevas (Lee Smith)
Frost/Nixon (Mike Hill and e Hanley)
Milk (Elliot Graham)
Quem Quer Ser um Milionário? (Chris Dickens)

Melhor mixagem de som

O Curioso Caso de Benjamin Button (David Parker, Michael Semanick, Ren Klyce e Mark Weingarten)
Batman - O Cavaleiro das Trevas (Lora Hirschberg, Gary Rizzo e Ed Novick)
Quem Quer Ser um Milionário? (Ian Tapp, Richard Pryke e Resul Pookutty)
Wall-E (Tom Myers, Michael Semanick e Ben Burtt)
O Procurado (Chris Jenkins, Frank A. Montaño e Petr Forejt)

Melhor edição de som

Batman - O Cavaleiro das Trevas (Richard King)
Homem de Ferro (Frank Eulner e Christopher Boyes)
Quem Quer Ser um Milionário? (Tom Sayers)
Wall-E (Ben Burtt e Matthew Wood)
O Procurado (Wylie Stateman)

Melhores efeitos especiais

O Curioso Caso de Benjamin Button (Eric Barba, Steve Preeg, Burt Dalton e Craig Barron)
Batman - O Cavaleiro das Trevas, (Nick Davis, Chris Corbould, Tim Webber e Paul Franklin)
Homem de Ferro (John Nelson, Ben Snow, Dan Sudick e Shane Mahan)

Melhor maquiagem

O Curioso Caso de Benjamin Button (Greg Cannom)
Batman - O Cavaleiro das Trevas, (John Caglione, Jr. e Conor O’Sullivan)
Hellboy II (Mike Elizalde e Thom Floutz)

Melhor figurino

Austrália (Catherine Martin)
O Curioso Caso de Benjamin Button (Jacqueline West)
A Duquesa (Michael O’Connor)
Milk (Danny Glicker)
Foi Apenas um Sonho (Albert Wolsky)


Bons filmes!

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quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Crítica: DESAPARECIDAS

Na sexta-feira assisti ao Curioso Caso de Benjamin Button e me animei para fazer uma maratona Cate Blanchett de filmes a que ainda não assisti. Nessa onda, loquei Desaparecidas (The Missing, 2003), com Tommy Lee Jones e Aaron Eckhart.

No final do século XIX, no Novo México, Maggie Gilkeson (Cate Blanchett) é mãe de duas filhas e cuida de um rancho com a ajuda de Brake (Aaron Eckhart). Maggie, católica fervorosa, exerce a profissão de médica-curandeira e acaba por receber seu pai, que a abandonara quando criança para viver em meio aos índios. A ação começa quando a filha mais velha da protagonista é sequestrada por índios contrabandistas de mulheres. Num misto de aventura, suspense e drama familiar, pai e filha embarcarão em uma jornada para recuperar a jovem.

Tenho que dizer que uma das épocas que mais me atrai é o século XIX no Velho Oeste Americano. Gostaria de viver alguns dias por lá naqueles tempos em que os desbravadores expandiam as fronteiras, contando apenas com seu rifle e sua bíblia. No entanto, não sou entusiasta do Destino Manifesto, da hegemonia estadunidense e afins, gostaria apenas de estar ali, morando naquelas casas de madeira isoladas, sem luz elétrica, sempre esperando ataques indígenas ou coisa que o valha.

Dessa forma, a um primeiro momento, o filme me chamou atenção por sua fotografia e caracterização. O por-do-sol vermelho nas terras secas e pedregosas, a neve no curral, aquelas roupas inconfundíveis, os rifles antigos. Um verdadeiro encontro com o período histórico.

Outro ponto forte, mas que pode se revelar a fraqueza do roteiro, é a mistura de gêneros. As perseguições aos sequestradores pendem para a aventura, as cenas de bruxaria indígena tentam enveredar para o terror e a relação entre Maggie e seu pai se mostra como um drama familiar. Assim, o filme pode agradar várias audiências, mas nenhuma delas o elegerá um clássico. O suspense acaba não assustando, a ação perde o ritmo em vários momentos e o drama não é explorado com profundidade, salvo apenas pelo talento de Blanchett e de Tommy Lee.

Outro problema é que o filme parece estar um tanto quanto deslocado no tempo. Ok, todo mundo sabe que o mundo não é maniqueísta, que os americanos cometeram um genocídio indígena e que os índios revidaram e também mataram muita gente. Mas, mesmo colocando brancos na área dos vilões, parece anacrônico pintar alguns indígenas como monstros sem alma. Assista ao filme e você, leitor afoito, irá entender o que estou falando.

Mas a película tem pontos fortes também. O sequestro de mulheres e tráfico internacional é uma realidade que ainda assombra muitos países, inclusive o Brasil. Só em 2005, a Polícia Federal brasileira abriu 119 inquéritos para investigar o tráfico de mulheres somente para Portugal e Espanha. Estima-se que as redes de prostituição possam lucrar até US$30.000,00 com cada mulher traficada. O argumento do filme, portanto, revela-se muito atual e pertinente.

As atuações também se destacam. Tommy Lee está sempre bem e se encaixa perfeitamente em seu papel. As duas atrizes que interpretam as filhas de Maggie também estão muito bem, com destaque para a pequena Jenna Boyd. Para Cate Blanchett, só tenho elogios. Não me canso de falar como impressiona o poder de sua expresão, das marcas de seu rosto, de seus olhos azuis e profundos.

Um pouco longo demais para suas pretensões, Desaparecidas peca em questão de roteiro, mas agrada quem busca um filme de época ou diversão banal. Sem trazer grandes reflexões, a película se mostra uma boa opção para sábado à noite. Quem sabe assim dá para aproveitar o pretensioso clima sombrio do filme.

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Pérolas Renânicas

E o vassalo, todo dia, era acordado pelo relincho dos porcos. Dormia no chiqueiro, pois o castelo de seu senhor era sagrado demais para seus pés calejados.

E todo dia o vassalo era açoitado pela fúria de seu senhor. Trabalhava nas mais duras tarefas e não tinha a quem reclamar. O Bispo era irmão do senhor. O Papa era irmão do Bispo. O Rei era irmão do Papa. E Deus era o pai de todos, menos do vassalo.

E dizia a Bíblia: "Não atire pérolas aos porcos". O senhor, depois de conquistar toda a terra, partiu para vencer o mar. Com a ajuda da Cruz, conquistou todo o Oceano e todas as pérolas do mundo, a ponto de não ter onde guardá-las. Interpretando as escrituras, o senhor concluiu que não deveria dar pérolas ao vassalo. Preferiu atirá-las aos porcos. Tinha certeza que porcos tinha sentido figurado.

E dia após dia, o vassalo esperava os porcos fazerem seus necessidades e procurava entre elas as pérolas do dia anterior. Depois de encontrar todas as pérolas do mundo, o vassalo foi abordado pelo empobrecido senhor: "Mas que raios se passou por aqui?"

"Mesmo nas fezes, encontramos as pérolas", replicou o vassalo. E o senhor, furioso, matou seu servo e o atirou aos porcos.

Ele não era uma pérola.

Crítica: O SILÊNCIO DE MELINDA

Assisti a esse filme graças a uma indicação no blog da Lola. O filme é de 2004 e bem desconhecido por aqui. Adaptação do romance "Speak", de Laurie Halse Anderson, a película se revela uma boa opção tanto em matéria de cinema, quanto em matéria de reflexão.

O filme aborda a história de Melinda Sordino, uma garota que parece totalmente deslocada de seu ambiente escolar. Ela quase não fala, não dialoga com os pais e sofre uma série de agressões psicológicas na escola. No decorrer dos fatos, descobrimos por meio de flash-backs que Melinda as sofre porque no ano anterior havia chamado a polícia durante uma festa de seus colegas. Desde então, vem sendo alvo das chacotas. Já devem estar se perguntando o que essa história banal tem de interessante e é aí que descobrimos que Melinda fora estuprada por uma galã do colegial, seu colega de escola. O peculiar é que ela não conta o ocorrido a ninguém. Nesse, ponto o filme colegial se transforma numa denúncia a que todos deveriam prestar atenção.

O início do filme já revela a dicotomia entre Melissa e seus colegas em uma cena brilhante em que se focaliza um all-star e uma sandalinha rosa cheia de frufrus. Outra cena que merece destaque é a protagonista no banheiro, tentando desenrolar o papel higiênico com muita dificuldade. Quem nunca teve dificuldade para desenrolar papel higiênico? Principalmente aqueles de banheiro público que estão meio molhados e grudam como cola. É melhor nem usar! Naquele momento, principalmente em seu contexto (assista ao filme), percebemos que a trajetória de Melinda não será fácil.

Vida de colegial norte-americanoé difícil, e todos os filmes parecem enfatizar isso. No filme não é diferente. Todos os clichês estão lá: os professores freaks, a amiga loira papagaio, as líderes de torcida, o banho depois da educação física, o professor durão e moralista que persegue os alunos. Apesar de presentes, eles não chegam a atrapalhar o filme por inteiro.

O interessante de notar-se na história é um dos fatos principais que envolvem estupro, o que a Lola discute muito em seu blog. Grande parte das mulheres que vivenciam esse horror são vitimadas por um conhecido e acabam não denunciando a monstruosidade por culpa. Exatamente, leitores, muitas mulheres acabam se achando culpadas pela agressão (veja o absurdo dessa inversão!) e têm medo de se expor por uma série de motivos. Assim parece ocorrer com Melinda, seu silêncio a consome a cada dia, suas notas caem drasticamente e ela é obrigada a conviver diariamente com o galanzinho que a violou. Há uma cena fantástica que retrata esse fato, quando a protagonista está no refeitório e seu algoz chega em sua mesa para conversar e a envolve com os braços, como um abutre. É a cena mais forte do filme, ainda pior que a cena do estupro (Aliás, tarados de plantão, não aparece nada na cena; guardem seus instintos).

De resto, o filme cumpre a cartilha. O roteiro utiliza os flash-backs com competência e a direção faz um trabalho bem fetinho. A trilha sonora cai bem, em sintonia com os sentimentos de Melinda. A ausência de músicas em vários momentos combina com o silêncio da personagem. Os atores coadjuvantes não se destacam, mas também não matam o filme, estão lá e cumprem sua função. Já Kristen Stewart cumpre muito bem seu papel. Penso que, se nada atrapalhar seu caminho, Kristen vai se tornar uma grande atriz. Ela possui uma característica que, para mim, é fundamental para separar o joio do trigo: a voz do silêncio. Sim, ela consegue se expressar muito bem apenas por olhares e expressões faciais.

Assim, recomendo o filme para todos. O estupro não é uma questão puramente feminina, mas masculina também. É bom que haja cada vez mais homens que se proponham a ser ativamente contra essa prática brutal, uma vez que homem e mulher são apenas gêneros de uma mesma espécie. No fundo, somos todos seres humanos com as mesmas alegrias e medos. O nome original do filme, por si só, já é um apelo: SPEAK! (FALE!). O silêncio corrói.

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terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Pérolas Renânicas

E o sábio, em frente a seu jardim, aumentou a voz e disse: "Toda a história humana é uma tentativa de preencher o vazio de nossos peitos."

E ela, já extasiada, replicou: "É por isso que eu coloquei silicone."

E assim o foi.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Crítica de estreia: O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON

Adaptação do romance de F. Scott Fitzgerald, "Benjamin Button" parte de uma premissa inovadora e nos envolve em um tema que é interessante a todos: a passagem do tempo. Esteticamente perfeito, o filme em si não atinge a perfeição, mas certamente será um dos melhores de 2009 e da obra do diretor David Finhcer.

Benjamin Button nasce diferente, nasce idoso e vai se tornando mais jovem a cada ano. No decorrer da película, acompanhamos o desenvolver de sua vida e, paralelamente, da vida de Daisy, o grande amor de Benjamin. A história dos dois, devido à essa estranha peculiaridade, é a história de um eterno desencontro, que só se ajusta por um breve momento quando ambos se encontram no meio do caminho.

Logo no início do filme, antes mesmo de as cenas começarem, já é possível notar o trabalho estético que envolve o filme. A formação dos símbolos das distribuidoras com os botões (Button é botão em inglês) já enche os olhos e antecipa a beleza que veremos nos próximos 166 minutos.

O pai de Benjamin correndo com o bebê em meio aos fogos de artifício das festanças, a breve cena de guerra no barquinho, Daisy dançando para Benjamin à noite, tudo é perfeitamente trabalhado para impressionar os olhos. Todo o filme, desde a iluminação ao figurino, é exaustivamente impelido à beleza.

A maquiagem é um caso à parte. Tanto Cate Blanchett quanto Brad Pitt estão perfeitos em cada época de suas vidas. O trabalho de maquiagem conseguiu transformar Pitt em um velho e em um jovem que, se não soubéssemos de quem se tratava, certamente tomaríamos como uma pessoa de verdade. E o mesmo vale para Cate. Inclusive, eles tomaram o cuidado de não apenas enrrugar os atores, mas manchar a sua pele, o que quase sempre é esquecido quando envelhecem alguém no cinema.

A história de Benjamin, inusitada por si só, cria uma série de situações incomuns que são ótimas de se ver. Um velhinho brincando com sua cadeira de roda e seus homenzinhos de brinquedo, um velho se dizendo virgem e tendo a primeira experiência sexual com o vigor da juventude e as conversas, ah, as conversas. Enquanto Benjamin ainda é velho, ele sempre conversa com pessoas que o tratam, naturalmente, como sendo mais velho, quando na realidade ele é que é mais novo. É ótimo observar aquele ancião aprendendo tudo sobre a vida, quando seus interlocutores esperam que ele ensine alguma coisa, mas é triste ver uma criança ser impedida de fazer as coisas que tem vontade porque todos a consideram um adulto. Há muito o que aprender com essas situações.

As atuações também merecem destaque. Os coadjuvantes cumprem bem seu papel, Taraji P. Henson nos entrega uma Queenie apaixonada pelo filho Benjamin e por sua ocupação. Tilda Swinton, sempre bem-vinda apesar do pouco tempo que passa nas telas, participa das grandes cenas em que Benjamin é tido como velho, mas está descobrindo o mundo. O elenco principal também merece destaque. Brad Pitt, que há muito já superou os estigmas que carregava, nos presenteia com a dose certa de Benjamin a cada época de sua vida. Cate Blanchett, sempre ótima, dá a Daisy a força que a personagem precisa para enfrentar o "juvenescimento" (não é rejuvenescimento porque Benjamin nunca foi jovem!) de seu amor. Aliás, confesso logo que acho que Cate Blanchett é uma das únicas atrizes da atualidade que consegue, em um único olhar, transmitir uma força que move montanhas. Certamente.

O Curioso Caso de Benjamin Button certamente despertará reflexões de todos a que o assistirem. Cada um vai se encontrar em alguma das fases da vida de Benjamin e Daisy e vai se deparar com a questão que assombra a humanidade: a passagem do tempo traz a morte. Não apenas a morte como o fim da vida, mas a morte da juventude, de um amor ou de uma época que parece perfeita. Atrás de todos esses questionamentos, o relógio aparece como o grande metonímia do filme. Ele anda para trás, ele bate suas badaladas em vários momentos do filme e ele está lá, quando Daisy e Benjamin estão desfrutando o meio do caminho. Seu tic-tac parece lembrar que o tempo varrerá tudo.

E aqui está o maior erro do filme, a repetição desnecessária sobre o valor da vida, sobre o destino e blá blá blá. Sabe aquela história que se uma piada precisa de explicação não é humor. Pois é, o mesmo ocorre com o drama. O excesso de didatismo do filme atrapalha não a apreensão de sua mensagem, mas o sentimento dessa mensagem. Nesse caso, a razão atrapalha a emoção.

Talvez nem todos concordem com isso, mas acho que esperava demais do filme. É uma grande obra de arte que o cinemão produziu, certamente, mas não entra no rol dos grandes filmes que tocaram meu coração. Como Benjamin aprendeu: "Nunca sabemos o que nos espera". Se eu não soubesse o que esperar do filme, talvez tivesse apreciado um pouco mais.

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quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O início é sempre o mesmo

Olá!

Se você chegou até aqui e está lendo esta postagem, deve ter sido acidentalmente, porque por enquanto eu não estou divulgando este blog com furor que deveria. Há um motivo básico para isso: preciso saber se passei no vestibular, pois se não passar, não terei tempo para postar com frequência (nova ortografia já está valendo!).

Porém, posso adiantar algumas cositas que você encontrará por aqui:

1) Críticas de filme com uma abordagem diferente
2) Resenhas de livros
3) Ensaios sobre temas diversos, desde política até, até qualquer coisa que vier à mente!

Ademais, o início das postagens é sempre o mesmo, com apresentações, motivações e sonhos que quase nunca se concretizam, por isso evitarei me prolongar.

Meu nome é Renan e o importante é sempre estar EMBASBACADO diante do mundo que nos cerca, pois isso é o início de qualquer reflexão!

Um abraço!

PS.: Bom mesmo é ver um projeto que toma vida por si só, o que está acontecendo com esse blog. Ele está tomando vida de Blog de Cinema e não de variedades como eu previra. Assim é que é legal! (Adicionado em 24/01/2009)

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